
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)



………………………………………….
A luz enrijeceu zebrada em planos de aço…

Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.

………………………………………….
A luz enrijeceu zebrada em planos de aço…

À espira aérea que me eleva aos cumes.
………………
Miragem roxa de nimbado encanto-

Sou chuva de oiro e sou espasmo de luz
Sou taça de cristal lançada ao mar,
Diadema e timbre, elmo real e cruz…

Deliro todas as cores,
Vivo em roxo e morro em som…
…………………………….
Quero dormir… ancorar…

Mordidos, doentios de roxidão.
…………………………..
Corro em volta de mim sem me encontrar

………………………………………….
A luz enrijeceu zebrada em planos de aço…

Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,

Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir… Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência.

Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso…
………………………………………..
Tombei…
E fico só esmagado sobre mim!…

Ecoa roxa aos meus passos.
Sonho os degraus do trono —
E o trono cai feito em pedaços…

— O Paço Real o meu génio…
— E os dragões são o meu sangue…

O luar batia sobre o meu alhear-me…,
— Noites-lagoas, como éreis belas,
Sob terraços-lis de recordar-me!…

Cortinados de Chinas mais marfim…
Áureos Templos de ritos de cetim…
Fontes correndo sombra, mansamente…

Mastros quebrados,.. singro num mar de Ouro…

Mastros quebrados,.. singro num mar de Ouro…

Mastros quebrados,.. singro num mar de Ouro…

Irrealidade anil que em mim ondeia…
— Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia…

Oito sinistro em sons de bronzes medievais
Jóia profunda a minha alma a luzes caras,
Cibório triangular de ritos infernais.

Estalavam de cor os grifos dos ornatos.
Pelas molduras de honra, os lendários retratos
Sumiam-se de medo, a roçagar veludos,

A luz enrijeceu zebrada em planos de aço…

Caprichos de cetim do meu desdém Astral…
Há exéquias de heróis na minha dor feudal —
E os meus remorsos são terraços sobre o mar…

Tudo é loucura já quanto em redor alvejo!…

Caio sobre a maldita… Apunhalo-a em estertor…

Enlevos de ópio — íris — abandono…
Saudades de luar, timbre de Outono,
Cristal de essências langues, fugidias…

Aconchegando-te em zibelinas —
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas…

Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata…

Transparecendo carmim —
Os teus espasmos, de seda…
Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim…

Toda bordada a cor-de-rosa,
Que foste sempre um adeus em mim
Por uma tarde silenciosa…

Onde fui só um espectador…
— Que sono lasso, o meu amor;
— Que poeira de oiro, os meus desejos

E ser o que já fui no meu delírio…
— Vá, que se abra de novo o grande lírio,
Tombem miosótis em cristal e Oriente!

O Doge de Venezas escondidas,
chaveiro das Torres poluídas,
mítico Rajá de Índias de tule —

(Harém de gaze, e as odaliscas seda),..
Que se embandeire em mim o Arraial,
Haja bailes de Mim pela alameda!…

Prolixos funerais de luto de Astro —
E pelo espaço, a Oiro se enfolou
O estandarte real-livre, sem mastro.

Incerta, nevoenta, recamada —

Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também ou, porventura,
Fundeaste a Oiro em portos de alquimia?…

Um Domingo de Paris-,
Cofre de Imperatriz,
Roubado por malfeitores…

Aplausos e brou-u-ha —
Interminável sofá
Dum estofo profundo e mole…

Presentes todos os dias…
Champanhe em taças esguias
Ou água ao sol entornada…

Pra sempre a minha carne e a minha vida
Fui um barco de vela que parou
Em súbita baía adormecida…

Dormente de ópio, de cristal e anil,
Na ideia de um país de gaze e Abril,
Em duvidosa e tremulante imagem…

Descendo enlanguescida e preciosa:
As cúpulas de sombra cor-de-rosa,
As torres de platina e de saudade.

Praças de honra libertas sobre o mar —
Jardins onde as flores fossem luar;
Lagos — carícias de âmbar flutuando…

Meu enleio apetecido —
Meu vinho de Oiro bebido
Por taça logo quebrada…

Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Hoje arrasta por esta a sua decadência,
Sem brilho e equipagens.
Milord reduzido a viver de imagens,
Pára às montras de jóias de opulência
Num desejo brumoso — em dúvida iludida…

De rendas que entre cardos só flutua…

………………………
Seu efémero arrepio
Ziguezagueia, ondula, foge,

Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira…
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado,
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Astral após que fantasiada guerra.
Quando este Oiro por fim cair por terra,
Que ainda é Oiro, embora esverdinhado?

Um crime ou bem que nunca se comete:
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu azar ou minha zoina suada…

As formigas cobriram minha sorte,
Morreram-me meninos nos sentidos…

E a cor-de-rosa, insinuando afectos,
Mas ninguém se me expande… Os meus dilectos
Frenesis ninguém brilha! Excesso de Oiro…

Que triângulos sólidos pelas naves partidos!
Que hélices atrás dum voo vertical!

Meia nua, agita as mãos pintadas da Salomé
Num grande palco a Oiro!
— Que rendas outros bailados!

Que vértices brutais a divergir, a ranger,
Se facas de apache se entrecruzam
Altas madrugadas frias…

Se volve, de grotesco — célere,
Imponderável, esbelto, leviano…
— Olha as mesas… Eia! Eia!
Lá vão todas no Ar às cabriolas,
Em séries instantâneas de quadrados
Ali — mas já, mais longe, em losangos desviados…
E entregolfam-se as filas indestrinçavelmente,
E misturam-se às mesas as insinuações berrantes
Das bancadas de veludo vermelho

Das bancadas de veludo vermelho
Que, ladeando-o, correm todo o Café…
E, mais alto, em planos oblíquos,
Simbolismos aéreos de heráldicas ténues

Laços, grifos, setas, ases — na poeira multicolor —.

Laços, grifos, setas, ases — na poeira multicolor —.

Laços, grifos, setas, ases — na poeira multicolor —.

As ondas acústicas ainda mais a subtilizam:.
Lá vão! Lá vão! Lá correm ágeis,.
Lá se esgueiram gentis, franzinas corças d’Alma…

Se alarga em ecos circulares, rútilos, farfalhantes.
Como água fria a salpicar e a refrescar o ambiente….
– Meus olhos extenuaram de Beleza!

De certas mãos que um dia possuí-
E ei-los, de sortilégio, já enroscando o Ar…

Abrem-se cristas, fendem-se gumes..
Pequenos timbres d’oiro se enclavinham…
Alçam-se espiras, travam-se cruzetas….
Quebram-se estrelas, soçobram plumas…

Fincadamente os cerro…
Embalde! Não há defesa:
Zurzem-se planos a meus ouvidos, em catadupas,
Durante a escuridão —
Planos, intervalos, quebras, saltos, declives…
-Ó mágica teatral da atmosfera,

Singra o tropel das vibrações
Como nunca a esgotar-se em ritmos iriados!
Eu próprio sinto-me ir transmitido pelo ar, aos novelos!
Eia! Eia! Eia!…

Nunca em meus versos poderei cantar,
Como ansiara, até ao espasmo e ao Oiro,
Toda essa Beleza inatingível,
Essa Beleza pura!